Dupla Irreverente

Casa Vogue celebra a coleção “Desconfortáveis” dos Irmãos Campana

Por Gabriela - Em 18/03/2021 às 3:35 PM

Irmaos Campana

Irmaos Campana

Em 29 de junho de 1989, Humberto e Fernando Campana inauguraram sua exposição de estreia, a Desconfortáveis, em um galpão da Vila Madalena, na capital paulista. Ali ficava a galeria de vanguarda Nucleon8/Laboratório da Luz, da designer Adriana Adam, grande incentivadora do início da carreira dos irmãos.

“Bardi (Pietro Maria Bardi, fundador do Museu de Arte de São Paulo) foi um dos primeiros a ver as cadeiras, pois pensávamos em vendê-las na loja do Masp. Apresentamos também para a Adriana e para a Maria Helena Estrada (jornalista e curadora). O entusiasmo das duas nos contaminou, e decidimos montar uma mostra sob a orientação delas”, recorda Humberto.

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Irmãos Campana

Apoiadas em pedras e sob luz dramática, 30 móveis de chapas de ferro com soldas aparentes, além de candelabros e castiçais de cobre, despertaram reações opostas. Em um artigo publicado na ocasião, a curadora e pesquisadora Adélia Borges elencou a variedade de adjetivos atribuídos aos itens: “radicais, agressivos, doces, pesados, antifuncionais, bonitos e feios – o difícil é ficar indiferente”, anotou. “O design voltava-se para a máxima ‘a forma segue a função’, com a criação de produtos confortáveis e leves. Fernando e Humberto revelaram outro universo. Exploraram a dimensão simbólica do objeto.”, avalia.

A invenção da dupla paulista nasceu de dois episódios. O primeiro insight veio de Humberto, após ele quase se afogar no rio Colorado em visita ao Grand Canyon. “Horas mais tarde, desenhei a cadeira com uma espiral no encosto. Depois surgiram as demais, com a participação do Fernando”, afirma. O segundo acontecimento foi o fim da ditadura no Brasil. “Era um momento de esperança, diante da chance de conquistar um país melhor. A coleção saiu como um vômito. Estávamos questionando nossas raízes, indagando sobre nossa cultura. A intenção foi propor uma linguagem brasileira desvinculada dos modernistas. Queríamos explorar a imperfeição livremente, sem dogmas, esta sempre foi a essência do nosso trabalho.”

Apesar das críticas positivas, Desconfortáveis não obteve o mesmo êxito no quesito comercial e vendeu só duas peças. Ao longo do tempo, porém, o sucesso internacional dos Campana direcionou-as para as mãos de colecionadores. Sem ter guardado nenhum exemplar, os autores compraram recentemente um par para o acervo do Instituto Campana – o mesmo que lançou, em 2019, a série de dez miniaturas em edição limitada, com renda revertida para projetos sociais.

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