Retomada do setor hoteleiro

Presidente da ABIH Nacional, Manoel Linhares aponta um prejuízo de R$ 122 bilhões no setor do turismo e como reverter o quadro

Por Pompeu - Última Atualização 24 de setembro de 2020

O cearense Manoel Cardoso Linhares, Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) Nacional, traça um panorama do atual cenário do setor hoteleiro brasileiro, apontando perspectivas e fazendo um balanço em comparação aos anos anteriores. Além disso, revela alguns elementos essenciais para que o turismo cearense contribua para a retomada da economia no Brasil e fala sobre o crescimento no mercado de empreendimentos de luxo.

Manoel Linhares é Um Dos Responsáveis Pelo Conotel E Equipotel Regional

Manoel Linhares é presidente da ABIH Nacional

IN – De que forma a pandemia afetou o setor hoteleiro no Brasil? De quanto foi o crescimento se comparado ao ano de 2019?
MC – O setor hoteleiro foi um dos mais atingidos pelas consequências da pandemia. Ainda estamos com 80% dos hotéis fechados, ou funcionando parcialmente, com a ocupação chegando ao máximo a 10%, o que sequer gera receita para pagar seus custos, já que o hotel precisa estar com cerca de 50% de seus apartamentos ocupados para arcar com os custos operacionais. Como não podia deixar de ser, com voos cancelados, hotéis fechados ou operando a baixa capacidade e vendas de pacotes praticamente paradas, o setor de turismo já acumula perdas de R$ 122 bilhões de março a junho. Podemos levar até 2023 para que o setor retome o nível de receitas de 2019, antes da pandemia do coronavírus.

IN – Quais critérios serão levados em consideração nesse cenário de retomada do setor?
MC – Agora, o protocolo em segurança biológica é o novo roteiro de viagem. Novos procedimentos e normas estão sendo estabelecidos nos destinos e demais equipamentos turísticos para atender um novo tipo de turista que coloca a saúde em primeiro lugar.

No quesito hotéis, o conceito de fazer com que os hóspedes se sintam bem recebidos mudou. Com grandes investimentos nos cuidados e na atenção dispensada aos hóspedes, as empresas desse segmento sabem que a segurança biológica passou a ser o primeiro item de valorização e, por isso, os padrões de acesso, distanciamento, alimentação e convivência nos hotéis foram renovados. Cuidar, além do tratar bem, passou a ser a ser um novo conceito da hotelaria nacional.

IN – Quais as perspectivas do setor hoteleiro para esse ano? E as projeções para 2021?
MC – Esse ano foi como se o primeiro semestre não tivesse acontecido. Teremos uma travessia difícil, mas é importante pensar que o problema irá passar e os meios de hospedagens terão que estar prontos para receber os turistas que, certamente, voltarão a viajar.

No Brasil a aposta é, em princípio, no turismo regional e, em seguida, o interno, que já seguia em alta na preferência e no hábito do viajante antes da pandemia: foram 97,1 milhões de passageiros viajando pelo país em 2019 – 2 milhões a mais que o registrado em 2018, considerando apenas o número de desembarques nacionais nos aeroportos, sem falar nos deslocamentos dos brasileiros de carro e de ônibus. E é essa força que deve traçar o caminho para a retomada do setor por aqui, já que o país é o maior do mundo em número de destinos e o quinto no mundo onde se mais gasta com viagens e turismo.

IN – O Ceará, assim como outros estados brasileiros, possui diversos equipamentos turísticos de destaque. Nesse cenário atual, de que forma o setor hoteleiro cearense pode contribuir para a retomada da economia brasileira?
MC – O Ceará é uma referência no turismo brasileiro. Depois da privatização o aeroporto de Fortaleza pela Fraport AG Frankfurt Airport Services, e da implantação do hub da Gol, KLM e Air France, o Ceará chegou a registrar o maior crescimento de passageiros internacionais do país, sem falar nos brasileiros que chegavam a cidade para fazer conexão com os destinos europeus e com os EUA. Hoje, com a pandemia, esse fluxo foi interrompido e as expectativas de retomada são para 2023.

Beach Park

Estamos otimistas com a retomada do turismo interno e, a partir da abertura de nossos equipamentos turísticos, como o Beach Park, seguiremos a tendência de receber turistas vindos, primeiramente, dos nossos vizinhos e em seguida de todo o país. O nosso exemplo será de responsabilidade e cautela na reabertura de nossos equipamentos turísticos. Também precisamos ter em mente que o turismo no Ceará está em processo de desenvolvimento e o atual cenário de crise pode contribuir para a aceleração de medidas, como a criação de novas atrações turísticas para Fortaleza, o que, certamente, aumentará o tempo de permanência não só na capital, mas em todo o Estado e a aprovação e implantação de projetos que tornem o ambiente turístico cada vez mais favorável paro o incremento do turismo no nosso Ceará.

IN – Quais fatores são levados em consideração para que possamos denominar um empreendimento (hotel ou resort) como sendo de luxo?
MC – Os empreendimentos de luxo são sempre bem localizados e possuem muito mais do que infraestrutura de qualidade, autênticas e exclusivas que proporcionam muito conforto em todas as suas acomodações. Hoje, o que define um hotel de luxo é apresentar “o melhor” produto em todos os setores do hotel: instalações, amenidades, acessórios, serviço e, principalmente, na maneira que isso é entregue para o hóspede.

A personalização de qualidade e a máxima atenção aos detalhes são uma importante dimensão do luxo. Esse cuidado é exibido no restaurante, na escolha de tecidos e mobiliários da decoração, nas porcelanas e talheres e, ainda, nas funções de cada membro da equipe. Os hotéis de luxo estão sempre na vanguarda da inovação, independentemente dos desejos ou necessidades dos hóspedes. O luxo procura proporcionar prazer e status e oferece singularidade, exclusividade e diferenciação, sem preocupar-se com o preço que irá custar.

Img 2031

Fortim é a nova meca do turismo de luxo no Ceará

IN – Nesse contexto de empreendimentos de luxo, como o Brasil está? São muitos equipamentos como esse no País e quais as expectativas de crescimento para esse mercado específico?
MC – Podemos ter uma ideia do tamanho desse mercado no país através dos dados da Brazilian Luxury Travel Association (BLTA) que tem apenas 44 associados, sendo 39 hotéis e cinco operadoras. Entre os hotéis de luxo, mais da metade da oferta é de hotel-boutique e 40% dispõem de até 24 apartamentos, registrando um faturamento bruto estimado em R$ 871 milhões em 2018, e movimentando 532.036 hóspedes.

242113888

Carmel Taíba

Os dados mostram a musculatura que a hotelaria de luxo no Brasil vem ganhando, já que de 2017 pra cá a oferta de hospedagem nesse segmento cresceu cerca de 25%, um crescimento de, aproximadamente, 30% em relação a 2017. No Brasil temos um mercado nacional voltado para esse segmento muito forte, representando 56% dos hóspedes. Poucos lugares no mundo promovem essa troca cultural que é uma grande tendência para esse mercado. Com a pandemia e a tendência do crescimento do turismo interno, o potencial desse segmento é enorme. No Ceará temos um grande exemplo do que chamamos de turismo 6 estrelas: o Carmel Taíba Exclusive Resort.

Mais notícias

Ver tudo de IN Business